Da primeira vez que a gente se “esbarrou” eu parecia apenas
uma menina afoita, que chega no parque de diversão e acha que pode ir em todos
os brinquedos, que se encanta com o proibido, com o medo que sente. Respirava
tão forte, seu ar, que tinha vertigem e ainda assim achava tudo lindo! Meti os
pés pelas mãos...cai da montanha-russa, passei mais de um mês em coma...
Da segunda vez que nos esbarramos, fui cautelosa... comprei
“armadura” e entrei desconfiada de tudo. Levei tempo pra me sentir à vontade de
novo.E pra falar a verdade, penso que nunca mais relaxei...algumas cicatrizes,
me deixavam menos sorridente. No entanto, que estranho, eu consegui ser muito
feliz. Fazia parte da “programação”...Nosso lema tornou-se “aproveite enquanto
o tempo está bom”. E tirando as vezes em que você implicava com meu jeito
prático de analisar a vida, a gente se entendia. Você fazia a comida e eu lavava a louça; eu fazia
suas vontades, você, vez ou outra, me deixava escolher o filme. Eu sabia o
ritmo da música e você gostava quando eu cantava junto. Viagens etílicas eram
menos vertiginosas que nossos corpos juntos. Não tínhamos nenhum “contrato”,
mas, sabíamos das regras “implícitas”. Não pode se apaixonar, não pode invadir
demais a solidão do outro, não pode discordar de assuntos importantes. Eu
apelidei de “ditadura do amor”, mesmo sabendo que aquilo não era amor. Não
podia ser...
Só esquecemos de “acertar” uma coisa...Consideração era
primordial. Ferir o outro, só se fosse, realmente, “sem querer” e inevitável.
Pedir desculpas, antes de magoar, tornava o ato “doloso” e só pioraria a
situação. O que “desmonta” não consegue falar, gritar, xingar...o que dizer pra
quem não entende qualquer sentimento que não seja seu? Nada...